Tatuagens de Areia

No país onde ocorreu a Grande Noite das Sombras

Encontrei-te por fim à beira-mar

Único local

Onde poderias

E querias ficar

As palavras fluíram então

Reciprocamente

Mas nunca de forma ordeira

Pois havia demasiado para contar

E o tempo

Sempre esse elemento cruel

Ameaçava esgotar

Mas olhámo-nos

Mais do que falámos

Olhámos para a profundidade do olhar

Que nos fazia

Pequenas belas coisas perpetuar

E querendo que aquele momento único numa existência

Deixasse uma marca

Para os dias sem som

Suprema valência

Contudo nada havia para tal

A não ser

Um vasto areal

Peguei então na areia molhada

E escrevi no teu colo

“Amo-te”

E tu no meu braço o mesmo

Com a promessa de que um dia

Nos iríamos voltar a encontrar

Promessa tão válida

Como as tatuagens de areia

Que à mínima erosão

Se iriam desvanecer

Mas não a marca

Que nos deixava no coração

Voltando de seguida

Para o povo que já foi sombra

Arrastando atrás de nós

Sombras que já foram pessoas

Arrastando o peso inconcebível de um passado

Garantia que no futuro

Eu estaria algures

Mas nunca do teu lado

Pois o destino

É como uma estranha teia

Onde se desenrolam demasiadas coisas

Mas não um “nós”

Onde acontecem promessas de eternidade

Gravadas em

“Tatuagens de Areia”

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 05/01/2010
Código do texto: T2012012
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