Tatuagens de Areia
No país onde ocorreu a Grande Noite das Sombras
Encontrei-te por fim à beira-mar
Único local
Onde poderias
E querias ficar
As palavras fluíram então
Reciprocamente
Mas nunca de forma ordeira
Pois havia demasiado para contar
E o tempo
Sempre esse elemento cruel
Ameaçava esgotar
Mas olhámo-nos
Mais do que falámos
Olhámos para a profundidade do olhar
Que nos fazia
Pequenas belas coisas perpetuar
E querendo que aquele momento único numa existência
Deixasse uma marca
Para os dias sem som
Suprema valência
Contudo nada havia para tal
A não ser
Um vasto areal
Peguei então na areia molhada
E escrevi no teu colo
“Amo-te”
E tu no meu braço o mesmo
Com a promessa de que um dia
Nos iríamos voltar a encontrar
Promessa tão válida
Como as tatuagens de areia
Que à mínima erosão
Se iriam desvanecer
Mas não a marca
Que nos deixava no coração
Voltando de seguida
Para o povo que já foi sombra
Arrastando atrás de nós
Sombras que já foram pessoas
Arrastando o peso inconcebível de um passado
Garantia que no futuro
Eu estaria algures
Mas nunca do teu lado
Pois o destino
É como uma estranha teia
Onde se desenrolam demasiadas coisas
Mas não um “nós”
Onde acontecem promessas de eternidade
Gravadas em
“Tatuagens de Areia”