Escorpião
Eu sempre fui daqueles amores silvestres
Nus e cruéis, feito furacões
Que passam sem deixar rastros
Pois a única prova de sua existência
São telhas que não existem mais
Eu sempre fui daqueles amores carnes
Que não lhe importam lugares
E lhe roubam tudo que tem
Corpo, gozo, alma e pesares
Daqueles que lhe devoram luxúria
Eu sempre fui daqueles amores ancestrais
Testemunhas da Terra e dos deuses
Daqueles que se vêem desde sempre
Embora não se vêem mais
Eu sempre fui daqueles amores coléricos
Sem pudores e gritantes
Que movem céus, terras, mendigantes
Feitos de cobre, ouro e espadas
Eu sempre fui daqueles amores fiéis
Que lhe exigem a eternidade
Lhe beijam a boca e lhe dão o sangue
E lhe batem nas faces
Eu sempre fui daqueles amores bandidos
Que lhe põem em perigos, lhe expõem ao mundo
Que lhe roubam as vísceras e as lágrimas
E lhe fazem sonhar
Eu sempre fui daqueles amores explícitos
Entre declarações e rugidos
De fantasias e cristos
Que não lhe deixam pecar
Eu sempre fui daqueles amores perdidos
Que são somente seculares escritos
Que não mais se eternizam por se matarem
Eu sempre fui desses amores intensos
Que entre promessas e consensos
É impossível de se amar.
(17.12.09)