A Mulher de Jó
"Mesmo com toda esta dor, ainda mantêm sua sinceridade, homem? Amaldiçoa seu Deus e morra"
Hoje, olhando para as cinzas onde rolavas o corpo doente,
Lembrei da primeira vez que o vi,
Homem belo, sóbrio, cheio de vida, contente.
Quantas felicidades revivi.
Por alguns minutos todo o mal cheiro,
Dissipou-se todo o odor ocre de morte,
E o vi ainda de posse de toda sua antiga sorte.
Lembrei-me que saia a sacrificar por nossos filhos,
Filhos queridos que a morte exterminou,
Lembrei-me das noites de insônia, cânticos sem estrebilhos.
Sofri com todas estas lembranças e retornei,
De novo a nossa realidade insana,
Então, angustiada até a morte, chorei.
Pela primeira vez em todos estes meses, humana,
Desiludida, sem esperança, pequei
E a alma angustida, gritou, profana,
A febril e infeliz frase, pela qual lembrada serei.
Que ao menos as mães da terra,
Possam entender a dor que o peito encerra,
Ao relembrar todos os meses de espera e dor,
Que me separavam de meu infeliz amor.
Meus filhos mortos estão,
Meu esposo morre aos poucos no quintal,
Seus amigos, outrora irmãos, criticam sua posição,
E para mim só a dor que dilacera e é real.
Nem mesmo um filho de resto,
Um carinho, um amor, um afeto,
Para acabar com meu tormento e dor,
Do céu só vem o silêncio do Criador.
Tem piedade de nós, Senhor.
( Baseado na mensagem do Pastor Sergio Silveira - 03/01/2009 - Fiel companheira e amigos nem tanto)