desdita
não posso ficar sem te ver tão bonita,
jamais tive escolha naquilo que colho;
tu és o murmúrio da minha desdita,
mas és o tempero que falta ao meu molho
não és esse beijo de paz que me evita
as noites sem sono em que não prego o olho;
não és muito calma nem muito aflita,
não gostas de alface nem comes repolho
e quando me abraças, minha voz se agita
se tenta, não grita: eu passo o ferrolho
mas o coração, esse pobre palpita
pois és a desdita que sempre escolho;
com tudo o que tens minha alma se excita
e o que falta em ti eu venero e recolho
Rio, 20/08/2009