Sinais de Perigo
O espelho, esse camarada atrevido, insiste em me mostrar alguém que não conheço, embora pareça comigo.
A vida me esfrega na face evidentes símbolos de desenlace - torturantes caminhos que me recuso a seguir.
Dias e noites estrangulados, sacros ícones desmantelados, todas as pontes caídas – mil motivos prá não sorrir.
São estrofes interrompidas, ruas escuras sem saída, alertas de destruidora tempestade – claros sinais de perigo.
Destinos se cruzam e se perdem, amores em incessante vai-e-vem, horas se arrastam penosas, minutos se prendem também.
Vemo-nos no esquife que segue, no canto do pássaro ferido, no orgasmo da mulher que chora antigos sonhos esquecidos.
Violinos em coro saudando o grito da garganta evadido, tambores rufam trazendo de volta, amantes outrora perdidos.
A madrugada serena inspira nobres canções, beijos em tangos devassos, carícias calando senões, avanços que não se detém.
É a marcha do desengano prosseguindo célere seu rumo, inférteis desertos gelados, souvenir desprovido de anseios,
Cometas sangrando sem aprumo, pulsares em reconstrução, o Caos instalado no orbe, Cosmo em visão desfocada.
Imagens esfaceladas são estas em que me apareces: mentiras alquímicas em preces - esperança em lápides apedrejada.
E a imagem refletida no espelho me mostra um sorriso estrangeiro, mercadeja lágrimas secas, camufla meus reais devaneios.
Qual a palavra que ainda não foi dita? Qual a frase de amor ainda não proferida? Quero garimpar palavras novas e juntá-las numa frase de amor nunca antes falada - então a recitarei com meus olhos, quando eles, outra vez, pousarem nos teus.
Vale do Paraíba, noite de Natal de Dezembro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)