Repetições e Antíteses
Tire de mim teus olhos azuis.
Tire de cima de mim tuas mãos.
Tire dos meus ombros tua cruz.
Tire de dentro de mim a paixão.
Devolva-me meus versos ruins.
Devolva-me meu amor à vida.
Devolva-me meus vícios e afins.
Devolva-me a dor de tua ferida.
Peço-te que saia daqui agora.
Peço-te que leves tudo o que é teu.
Peço-te, gentilmente, que vá embora.
Peço-te que partas sem dizer adeus.
Saia e leve as lembranças que tenho.
Saia e não pense em voltar atrás.
Saia e esqueça todo o meu desempenho.
Saia, por favor, saia e me deixe em paz.
Não deixe nada que me lembre você.
Não deixe nada na gaveta, ou na estante.
Não deixe de dar notícias, escrever.
Não deixe esse olhar sobre mim neste instante.
Esqueça as coisas que eu disse um dia.
Esqueça tudo o que não quer levar.
Esqueça nossos momentos de alegria.
Esqueça, pois não quero mais lembrar.
Não venha dizer que a casa é tua.
Não venha dizer que eu devo partir.
Não venha dizer o caminho da rua.
Não venha dizer que não vai mais sorrir.
Me deixe à sós por um momento.
Me deixe um tempo a refletir.
Me deize explicar o sentimento.
Me deixe, por favor, ficar aqui.
Venha, me dê um último abraço.
Venha, sem ressentimentos, vamos.
Venha, dê um dos sorrisos escassos.
Venha, vamos lembrar o que passamos.
É inútil, querida, tentar resistir.
É inútil eu dizer que não vou ficar.
É iútil, de nossa vida, desistir.
É inútil, amor, fingirmos não amar.
Lembra-se dos outonos que passamos?
Lembra-se do amor que nós partilhamos?
Lembra-se de como teus olhos brilharam?
Lembra-se do dia em que nos abraçamos?
Fique, querida, você não tem de ir.
Fique, querida, volte para a cama.
Fique, querida; ande, vamos dormir.
Fique, querida, enquanto ainda há a chama.
William G. Sampaio [23/12/2009]