"QUASE DECLARAÇÃO"

Meu sonho, eu te perdi; tornei-me uma mulher.

A melodia que mergulha no fundo de minha alma

é simples e fatal, mas não traz carícia

lembrar-me de ti, melodia criança, de ti

que te transformei em poesia sem melancolia,

levavas em cada palavra a ânsia

de todo o sofrimento vivido.

Queria dizer coisas simples, bem simples

que não ferisse teu coração, meu amor.

Queria falar em Jesus - falar docemente em Jesus

para acalentar tua esperança, minha vida

queria tornar-me mendigo, ser miserável

para participar de tua beleza, meu amado

queria minhas amigas...queria minhas inimigas...queria...

Queria tão exaltadamente, meu amor!

Mas tu, melodia

tu, desgraçadamente, melodia

tu que me afogaste em desespero e me salvaste

e me afogaste, de novo, e de novo me salvaste

e me trouxeste à borda de abismos irreais em que me lançaste

e que depois eram abismos verdadeiros.

Onde vivia a infância corrompida pelo trabalho,

a loucura, as mãos cheias de calos, idéias e idéias em lágrimas,

e castigos e redenções mumificados em sêmen cru

tu iluminaste, jovem dançarino,

a lâmpada mais triste da memória...

Pobre de mim, tornei-me uma mulher

de repente, como a árvore pequena

que a estação das águas

a seiva no húmus farto estira o caule

e dorme para despertar adulta

assim, eu, voltasse para sempre.

No entanto, era mais belo o tempo que sonhavas...

que sonho é minha vida?

A ti direi que és tu, meu bem!

A você, no pudor de falar antes a vossa grandeza

direi que é esquecer todos os sonhos, minhas amigas.

Ao mundo, que ama a lenda dos destinos

direi que é meu destino ser poetisa

a mim mesma, hei de chamá-la inocência,

amor, alegria, sofrimento, morte, serenidade.

hei de chamá-la assim que sou fraca e mutável

e porque é preciso que eu não minta nunca

para poder dormir.

Luciana Jeronimo
Enviado por Luciana Jeronimo em 16/12/2009
Reeditado em 17/07/2012
Código do texto: T1981643
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