Póstumo do princípio

No principio eu estava só.

Meus pensamentos a deriva na baía das desilusões.

A água turva, morta, pairava solene.

E aquele líquido negro, tomava o meu corpo, frio.

Em minhas mazelas você me observava.

A minha tristeza silenciosa lhe atraia.

E em meio aos vultos incessantes ao nosso redor,

o meu vazio chamava-lhe a atenção.

Do seu olhar eu logo me perderia,

pois unindo-me aos vultos famintos, tomaria outra direção.

Nossos destinos, sempre livres, se entrelaçam.

Mesmo em sua liberdade, livremente se acolhem,

pelo poder que tu exerces, pela sua curiosidade, pelo acaso.

E embora eu ainda não percebesse,

me tomaste para ti em teu olhar,

mesmo que ainda não o quisesses, pois já partilhavas o seu ser.

E isso regia os seus dias, porque lhe tinha alguma importância.

Importância incapaz de ser medida,

o que lhe arrancaria algumas lágrimas.

E a morte prossegue provocando a vida,

até que nossas horas se cruzam, curiosas,

através da intermediadora do acaso.

A partir dai seguem despreocupadas,

se estendendo, se preenchendo.

E quando percebestes, aos meus defeitos se apegara.

E eu a sua presença amiga.

Um dia o elo que partilhara ameaçou romper-se

e presenciei suas lágrimas, confusas, embebidas e alucinadas.

O tempo me fugia e senti oculta tristeza pelo que presenciava.

Sem esitar em minha consciente precipitação,

trouxe-lhe um pouco de sanidade ao tocar-lhe a face

e segui em minhas horas vendidas.

De todas as lembranças, essa para mim é a mais vívida.

Fatos se estenderam a partir dai, fugindo...

"Fugindo do controle de todos!"

E embora digas que me reencontrara depois disso,

sou incapaz de lembrar os fatos.

Talvez tenha me perdido em minha própria confusão.

E em meio a ela nossas vidas se separaram.

Eu não sei como teria sido se fosse de outra forma.

Talvez tenha sido preciso a lição que traz a penitencia

ou não teria os olhos que tenho hoje.

Suas horas descorreram longe das minhas,

desgarradas, se não, unidas por fios quase invisíveis.

E enquanto eu deteriorava em minhas aflições

e me perdia, você me buscava.

Embora tenham tentado apagar suas convicções, eu vivia.

Em meio as suas dificuldades, você pode me encontrar.

Chamou por mim, me disse o seu nome,

mas eu mal pude reconhece-la.

E em sua tristeza, desiludida, deixou pra lá.

Até porque ainda partilhavas o seu ser com outro,

que embora cavasse um abismo entre vocês,

era incapaz de aniquilar por completo

toda sua extensa capacidade de amar,

sua fé acolhedora, sua calma reverberante, tão doces.

Porém o fim era eminente,

mas você foi capaz de prosseguir sozinha e vencer.

E venceu!

Venceu suas dificuldades sozinha,

teve suas perdas e pagou seus tributos.

E quando pra mim o fim parecia a solução certa,

você me procurou e dispôs-me novamente suas horas.

Me fez provar da segurança que seu ser exala, da esperança.

E mesmo com medo, arisco,

aceitei as suas ofertas generosas e fui te ver.

Acanhado, me entreguei as possibilidades encantadas do seu eu.

E você me aceitou e me quis, com todos meus defeitos.

Se dispôs a curar-me e me guardar para ti, longe de todo mal.

E foi o iniciar do meu renascer, do resplendor de minh'alma.

Passei a desejar aos poucos...

Desejar a vida, o sonho de outrora, a plenitude do ser.

E este foi o princípio:

Passei a desejar você...

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Faz muito tempo que tento falar sobre como conheci

a pessoa que tem sido minha viga mestra,

minha melhor amiga e meu amor maior.

Essa foi a forma que eu encontrei de retratar este acontecimento.

Os detalhes estão ai, muitos só uma atenção especial,

pré-conhecimento e raciocínio teórico

(o meu em particular) podem explicar.

Ou melhor, desvendar.

Obrigado para quem leu, paciente,

pois esta é uma homenagem a minha menina.

O maior tesouro que eu tenho.

Te amo minha Milla.

A4U8

David R
Enviado por David R em 12/12/2009
Código do texto: T1974170
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