Alma despida
Meu corpo encontra-se há muito tempo exilado do teu, longos dias de ti degredado, prisioneiro faminto do calor de tua pele.
Não há paz possível para minha aflição: o arrastar penoso dessas peregrinas horas, isolado no meio dessa indiferente multidão,
Não me compensam a tua ausência. A chuva que agora banha o meu rosto deixa incólume este prego-tristeza, cravado em meu coração.
Inquieto, o sono me embala mais cedo. Quiçá em meus sonhos te encontre, e neles, a despir tua alma, teus misteriosos desígnios revele.
Um jardim deserto, sem flores: insensíveis automóveis deslizando nas ruas, meus passos marcados na areia, teus cabelos a me afogar.
Como posso renegar teu espólio? Nossa casa nua me leva a você, recordações arquivadas em meu portfólio, imagens de nosso querer.
Noites partidas em metades, dias de incompleto viver, projetos debaixo do braço, olhares de fogo - impossível ficar sem te ver.
Velhas canções me falam de amor, novas promessas calam meu Ser; nada quero, além de você. Tudo o que tens – é o meu modo intenso de amar.
Não há frases novas para conjugar. Gravadas em chamas, a minha frente, as mesmas palavras de sempre ditando sentença final.
Apenas duas palavras: sete letras juntadas, três consoantes a quatro vogais somadas, palavras boas prá te dizer. Amo você.
Há infinitos caminhos atrás de mim. Caminhos já percorridos, estradas a que não mais voltarei: à minha frente todos os caminhos levam a você.
Não me importa mundos estertorando, sóis em agonia final, mas sim me apavora a falta de teus beijos, este teu beijar sem igual.
Após muitos anos procurando a resposta, não consegui descobrir se há vida após a morte. Mas já adquiri certeza absoluta de que não há vida sem amor.
Vale do Paraíba, manhã da segunda Sexta-Feira de Dezembro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)