ESTÁTUA DE SAL
Então...
Não estranhe o meu andejar manco
de lá pra cá, de cá pra lá, sem muito critério;
sou apenas o luar insano e débil
se perdendo da lua;
a lua transviada no meio da poça
se perdendo da noite;
a noite embriagada de solidão
se perdendo do amor;
o amor se perdendo... Se perdendo!
Não me trate como se eu tivesse quinze anos.
Não se iluda. Tenho algumas eternidades,
e um monte de fotos a serem desvendadas
(de um semblante que encontrei enrugado
no reflexo proporcionalmente inverso
à imagem paralisada de meu rosto
amando a face oculta da lua, à meia noite.)
- Isso sim é perdição!
Estou aqui desde ontem
com a mesma roupa no avesso,
o mesmo sapato sem sola,
a mesma rua e a mesma esquina sem saídas,
os mesmos eclipses sem placas,
as mesmas corrosões velozes,
os mesmos medos fotografados,
e o mesmo olho inchado de tanto te olhar:
- É olhar-te em vão que tem me apequenado.
Então...
É que quando te olho me vejo dízima periódica;
cavalo de São Vicente:
- Carrega peso e não sente.
Sentimentos meus que os fatos iludiram.
Eles não têm mais importância alguma.
Eles não têm razão nenhuma para me furtar o sorriso,
mas eles fazem as lágrimas me beijarem palpitantes
as minhas horas mais frágeis.
Frágil, venho abaixo. Viro sal.
Não visses ainda que quando abotoas
no meio de meus confins
enche meus olhos de jardins
e meu coração de espinhos?
Ajardinado, vou-me fugaz... Sem olhar para trás.