Cegueira
Faz tempo
Não vejo sua alma
Faz muito tempo, imagina só
Nunca vi se quer seu rosto, seus olhos
Faz tempo que não vejo o que vejo que não vejo
Agora estou prestes a cegar, hei de poder ver almas
Almas livres do olhar outrora,
dos raios tremidos que lhas define.
Faz tempo que a história se repete
Repete sem a personagem visceral
Coberta e recoberta pela luz cênica
Faz tempo que a carne do mundo sangra
No lugar d’almas vi imagens cruas, mortárias
Caidas na calçada da fama, sob falsas honrarias
Vejo há muito tempo
Quero ver o que vejo,
o centro de você ou sua louca harmonia
Alma que não vi nua
Nem crua ou fria
Imagina só, o rosto que ainda não concebo
Quem precisa do Fora, precisa estar dentro
Franca nudez, acolha-me à cegueira d’lma
Desejo olhar-te: quando a cegueira for eu
Meu fogo terá consumido os mitos de cera
Os fantoches terão sido reduzidos ao calor
Quem for mais que esse fogo viverá assim:
na superfície resplandecente,
eterna superfície,
eternamente fria