Cegueira

Faz tempo

Não vejo sua alma

Faz muito tempo, imagina só

Nunca vi se quer seu rosto, seus olhos

Faz tempo que não vejo o que vejo que não vejo

Agora estou prestes a cegar, hei de poder ver almas

Almas livres do olhar outrora,

dos raios tremidos que lhas define.

Faz tempo que a história se repete

Repete sem a personagem visceral

Coberta e recoberta pela luz cênica

Faz tempo que a carne do mundo sangra

No lugar d’almas vi imagens cruas, mortárias

Caidas na calçada da fama, sob falsas honrarias

Vejo há muito tempo

Quero ver o que vejo,

o centro de você ou sua louca harmonia

Alma que não vi nua

Nem crua ou fria

Imagina só, o rosto que ainda não concebo

Quem precisa do Fora, precisa estar dentro

Franca nudez, acolha-me à cegueira d’lma

Desejo olhar-te: quando a cegueira for eu

Meu fogo terá consumido os mitos de cera

Os fantoches terão sido reduzidos ao calor

Quem for mais que esse fogo viverá assim:

na superfície resplandecente,

eterna superfície,

eternamente fria

troclone
Enviado por troclone em 06/12/2009
Reeditado em 06/12/2009
Código do texto: T1964154
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