DANÇA NOTURNA
Imóvel na luz, mas dançante
Tu me apareces- imagem brilhante
De mil guarda-fogos.
Eu te vejo
E tremo.
Te vejo em minhas pupilas de cabrito,
De animal assustado.
Pupilas profundas e úmidas,
Admiradas com teu lume, tua incandescência...
Tu me vês e somente com os olhos me dizes de teu balanço,
Dizes-me coisas de estar imóvel e dançar.
(É que quem se move é a luz nas lamparinas
E nós apenas a acompanhamos com os sentimentos).
- Para mim, as luzes sempre foram tuas.
E é noite, porém.
Não há ninguém no Jardim.
Somente eu e você
Nesta zona solitária.
E então decidimos dançar para esperar a chuva.
Porque agora não falta ninguém no Jardim.
Agora é hora de não chegar ninguém.
E dançaremos até que chegue o inverno.
Ou até que a primavera chegue como uma aparição.
Dançaremos em torno do fogo
Ou em baixo da chuva - porque ela chegou.
Dançaremos até que caia a noite
E a tarde se apague como carvão
Porque não tememos o anoitecer nem a escuridão.
(Ainda temos aquela luz, que é minha e tua.)
Dançaremos até que nasça o dia
Seguindo os passos de frevo da alvorada...
Dançaremos, dançaremos, dançaremos até o último fôlego...
E até lá, seremos apenas eu e você no Jardim...
Esperando que ninguém chegue.