Chamas da Paixão!
Queima-nos o abrasador fogo da paixão; santificada, intensa. Imensa e humana paixão.
Inexplicáveis e arrebatadores momentos vivemos, presos na redoma formada por este sentimento,
Unidos por algemas de puro encantamento, forjadas na doce alquimia do enamoramento.
Chamas da paixão nos envolvem: irrefletidas, abusadas, abalroando todo tipo coerente de explicação.
Inviável se fazer amor sem poesia. Não o Amor, este ato tão pleno de magia, só possível de ser engendrado em mentes nascidas nas leves asas da utopia.
Camões dizia que amor é fogo que arde sem se ver. Não concordo: amor dilacera, amor nos devora, nos despedaça com urgência faminta de fera.
Neruda fala de um amor mais sofrido, um amor muito mais vivido, amor que se ri, amor que se chora, amor que se quer amar - amor que se espera.
Gosto do amor descrito pelo Bandeira: uma hora, amor lúdico, suave; noutras, paixões desvairadas, loucas Vênus despidas - botões de rosas em torturante agonia.
Mas o amor, este amor que incendeia, que irrompe em cidades, em vilas e aldeias, inesperado, atrevido, este amor que assusta, amor que muito nos custa, amor tão incompreendido,
Não se acha a granel, não pode ser dividido. Vinícius louvou o efêmero, Pessoa, amores sonhados, sublimes amores nunca vividos; Cecília narra o imprevisto.
Vem-nos Adélia, a brindar com linguagem do prado, em seus versos fortes, figuras rijas, precisas; Florbela nos traz, de outras partes, amares aqui nunca vistos.
São falares belos, admito. No entanto, falo de um amor mais completo, de um amor por uma só mulher, mulher que reúna em si todas as demais mulheres que jamais ousei amar assim: um amor santo, ao mesmo tempo devasso – um amor pecaminosamente bonito.
Interessante observar que a abstinência (a impossibilidade de estarmos com quem amamos) eleva a paixão, ou o desejo, como melhor queiramos definir, a níveis impossíveis de quantificar, tornando ainda melhor a percepção do prazer que temos, quando enfim atravessamos a ponte que nos conduz aos braços que tanta falta nos faz. Amar nesse estado de paroxismo leva-nos a transitar, ainda em vigília, por mundos que apenas sonhávamos existir.
Vale do Paraíba, tarde da primeira Sexta-Feira de Dezembro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)