Sou primavera
Sou primavera no raio de luz que chega penetrando em fel,
sela o desejo nas gotas que permutam o beijo que existiu,
ao léu, fragrâncias do amor que em invernos distantes sentiu
o corpo amante mostrando hoje o pálido rosto que um dia sorriu.
Não sou mais que pássaro sem canto em meio a tantos corpos dormentes,
entre o tudo e o nada, apenas primavera no branco de nua geada
a florir os caminhos trilhados pelos passos sombrios
das intempéries do amor onde em ondas o mar chora nova enseada.
Com sangue ainda quente, um corpo dorme seu sono de paz,
nas sombras, apenas lembranças do dia que com luz o céu adornou,
é frio o sonho que molha os olhos serrados que traz
em primavera a rosa que perfuma a alma que em paixão se entregou.
Sou primavera no raio de amor que seu canto entoou
nas notas retocadas em descrença de toda vã hipocrisia,
um único som ecoa no mundo onde o sonho acordou
a rosa dos ventos que sopra o tempo onde a vida existia.
24/05/2006