Lembranças ao vento

Não importa se a percepção humana,

Possa entender cada palavra,

Este veículo que transporta,

Carrega as angústias,

As mágoas que um dia semeei

Que hoje colho, nesta terra selvagem.

Cada verso é um canteiro,

Uma areia que invade o celeiro,

Abarrota-o com os grãos,

Este alimento desesperado.

Não foram os amores,

As meninas ditosas,

Nem as poucas putas

Que mais tiveram alento,

Que suas vestes soltas ao vento,

Despidas ao abraço falso,

A cama vazia, feita de prazeres vãos.

Nem tão pouco veio o tempo,

As brancas ruas na cabeça,

Profundas rugas no rosto,

Não, não foram.

São as cores dos meus olhos,

O tom da pele que queima o sol.

Minhas mãos vazias, sempre vazias,

E esta liberdade de ser, ter, crer,

E poder omitir as verdades.

Enfim, sei tudo e não sei nada,

Sem se importar que entendam,

Interpretam o que escrevo,

Ou mesmo não saibam que existo,

Que vivo, faço parte de tudo.