Mãe
Chorei, calada
noites a fio
desesperada
tão só, tão fria minh'alma
sem teu colo
sem morada
fiz da redenção meu alívio,
meu grito reprimido...
tu não vieste,
nenhuma madrugada sequer
mesmo nos prantos mais altos
nas convulsões febris dos amores sórdidos
não leste meus versos de paixão?
tu sabes de mim tão pouco
e tampouco te importas se morro
dia após dias, então
se olhares em meus olhos turvos
sem vida, embriagados de água e sal
ainda assim não entenderás
quão forte ainda sou, mesmo na dor que rebenta e queima
corto as noites, cinicamente
entre lágrimas, armada e penadamente sóbria
não me ensinaste a ser mulher guerreira
mas eu me fiz de tal maneira e clamo
ainda clamo teus carinhos esconjurados
guardo-te em páginas coloridas do meu diário
e dou-te os dias, o império das noites
ainda espero revelar-te meus segredos
ainda espero-te à porta de casa
para que com um beijo tu me despeças
às mãos do meu amor qualquer
que vaga sem nome, sem rumo...
guarda meu segredo, mãezinha
e olha-me com o mesmo amor de Deus
ouve meus afetos e desafetos de menina
de mulher, desesperada
não me ensinaste a amar
por isso, tão vil e lúcida, morro
a cada dia numa ilusão insensata
pois eu amo a tudo, amo loucamente, mas isto não basta...