Outras Palavras
Ah! Se eu fosse te falar
Desta minha visceral angústia, que sempre insiste em me corroer a fugidia calma.
Desses momentos tão negros, dos quais prefiro guardar insondáveis segredos,
Juntando minguadas rações de forças, alinhavando precários remendos em minha alma
Degredado em penhascos de solidão, aterradores desvãos, nos quais ocultamos o atordoante medo.
E se eu te falasse
Do medo da vida, do terror que nos infunde o mundo? Do medo maior de nós mesmos, que nos paralisa, devora?
Como tu reagirias, com esses teus olhos graúdos, estrelas rebeldes, sem pátria, neon a lacrimejar?
Falar de dor não combina com tarde esplêndida de sol, com brisa soprando ligeira, casais se acariciando lá fora.
Então me fogem as palavras, outras falas vou inventando, teu rosto amado mirando, tuas mãos a me aprisionar.
Por isso, meu amor, fujo de mim, não falando de nós
Já que desvendar-me te intriga, deixando-te mesmo assustada, incrédula, tentando me consolar de forma desajeitada.
Não te culpo; a mim mesmo muito me custa entender essas minhas mazelas, ficar girando no vácuo, uma porta sem taramela
Deixando entrar, sem aviso, tempestades de ordens diversas, outros quereres em ondas reversas, as defensas avariadas.
É quando a pergunta se instala: viver tem de ser tão doído? Por que o amor é tão incompreendido, espezinhado sem zelo ou cautela...?
Quase nunca dizemos a outrem o que realmente pensamos, guardando para uma fala com nós mesmos, as nossas mais profundas angústias, questões tão complexas que só nosso Eu interior pode digerir. Só os nossos olhos, fendas indiscretas da alma, deixam escapar centelhas do que realmente acontece dentro de nós.
Vale do Paraíba, tarde da última Quinta-Feira de Novembro de 2009
João Bosco (aprendiz de poeta)