Soneto da moça ao passageiro

Pois que te chamam (por quê?) passageiro,

Mas para mim nunca passas, meu caro,

Que tenho vindo a esta linha o ano inteiro

E tu, sentado dia-a-dia aqui ao lado.

Vejo-te mais que um irmão meu, solteiro,

Que mora longe (trabalha no estado

De Pernambuco, janeiro a janeiro);

Vejo-te mais que meu vô adorado.

Como um parente que, embora presente,

Não sei da vida, nem sei profissão,

És uma parte do dia vigente

E uma esperança dos que ’inda virão.

Quero te ver, passageiro frequente,

Contigo os dias, ah!, não passarão.