Das retinas
Recordo-me de ti ao olhar-me,
indo pela mesma estrada por onde chegaste
e a sonhar com a vigília despreocupada:
um último desejo, a última voz, uma última fala.
Recordo-me também do meu maior silêncio,
cheio de bocas, barulhando o instante
onde o discurso manso se ensorbeba
e o teu peito desencantado chora.
Recordo-me de tudo o que foi sempre esquecido,
de um castigo gozoso e de um susto parido
e do que nunca mais volta.
Recordo-me por fim de tuas retinas
e do que nelas vive e do que nelas mora,
gravados nas minhas que sem irem embora,
ficam a gargalhar em choro bem permitido.