CATARSE DE AMOR
O homem é o único
animal
que quando sofre
um desgosto
de amor
até nem leva a mal
e escolhe calar-se.
Os outros animais
como não podem
desabafar
então
em questões
de coração
entram na catarse
da luta.
O amor
é o único
sentimento
que vale
uma disputa.
Uma flor amarela
espalha o seu
pólen
ao vento brando.
Ao longe
eis senão quando
a pétala de uma azálea
vermelha
o aceita.
Se fosse um homem
a padecer
tamanha maleita
largaria o coração
num regato
e partiria até à fonte
com a água na boca
na pista
do desacato.
Não falo por
experiência.
Nestas coisas
de amor
sou apenas
um contador
de histórias
sem ciência.
Isto é,
não busco glórias,
não sei onde ponho
as mãos calosas
nem guardo
suspiros.
Sou um ser pacato,
um ente mais calmo
do que o sono
dos vampiros.
Com as
mulheres vaporosas
apenas sonho;
se algo me tenta
canto
os versos
dum salmo;
nunca desato
em pranto
e até
não sei bem
o que isso
quer dizer.
O amor
de verdade
confesso:
arde.
É algo
de possesso
com perfume
de rosas
e come-se de colher.
O amor?
Tem um paladar a romã,
o vício da maçã
e corpo de mulher.
Penso
sempre nesse odor.
Nesse modo de viver.
Gosto de falar
de amor
antes
de adormecer.