Tela
E o vento sopra na noite,
Neste madrigal que desabrocha,
Nesta primeira primavera.
E o vento sopra e carrega em seu dorso,
Neste galope faceiro cada palavra,
Cada gesto pelo sonho que te dedico.
São preces, orações, versos,
Uma bagagem pobre,
Na rima de saudade com solidão,
No rasgo da boca um pequeno sorriso,
No canto dos olhos uma lágrima,
Na face o palor da inquietude.
E o vento sopra,
A palavra se libera,
Mas, o tempo não espera,
Avança se faz em cerca,
Tranque a rua, a passagem,
Mas leve meu olhar à janela,
Ao infinito azul que se perde em seu olhar,
Cala-se, silencia,
Quando o amor e saudade
Na solitude de ser sem ter,
Sem possuir, tanto que o mundo questiona.
E o vento sopra quando a vida,
A vida quer parar,
Mas antes, bem antes que se faça
Em suas mãos, em seus olhos,
Hão de ficar este pedaço, esta parte
Neste crepúsculo de poesia
Que se perde pouco a pouco
Na tinta extinta que coloriu a vida.
Amei você no silêncio da tela dos meus olhos,
Nos reflexos azuis
Que fluidificaram os eflúvios
De um só instante que foi só meu.