Verso perdido...
Dos meus sonhos, todos, bastam
os amores incontidos e intransigentes
as melodias fúnebres e a febre morna
d'um eterno desamor insolente...
Dos meus finos retalhos surgem
apenas as pálidas e loucas faces
os odres de ilusões pútricas
a paixão, lúgubre, em seu ápice...
Das quimeras ardentes em brasas
recordo a tua boca dizendo adeus
e nem uma lágrima, apenas, resta
deste efêmero amor, exílio de Prometeu...
E as solenes vozes turvadas
de acanhados medos cifrados
surgem, em vão, mais amargas
no clarão dos beijos roubados...
Da tua sombra fiz minha morada
no calor dos veludosos braços teus
e de olhar, assim, amenizada
um verso que, no tempo, se perdeu...
Escrito entre as pedras do Cáucaso
entre as ilhas celestes d'alma
nas vestes mais alvas de Hera
tingidas qual mortalhas sagradas...
Dizia, em pecado, intentos
d'um amor tão lindo e profano
por ele perde-se-á a vida
o maior dos erros humanos...
Seria amar sem razão, a beleza
enquanto o rubor das jovens têm sido
amar, por amar, tão louca e ferozmente
como se ama um sonho incontido...
O mesmo sonho que clama cuidados
para aceso permanecer em meu peito
sangrando de pouco a pouco e muito
semeando meus piores segredos...
Nesta e n'outras manhãs de prelúdio
amordaçados e vis beijos inteiros
é isto que mais almejo de tua boca
mais que todas as palavras de cortejo...
E quando estrelas nuas iluminarem
o infinito em que Eros adormece,
as horas serão eternas e imortais
e meus versos maiores que as preces...
Dos meus sonhos incontidos farei zêlo
para que teus lábios em mim repousem
e clamem, intensos, em altos solfejos
maiores que a vida, bem maiores que a morte!