Verso perdido...

Dos meus sonhos, todos, bastam

os amores incontidos e intransigentes

as melodias fúnebres e a febre morna

d'um eterno desamor insolente...

Dos meus finos retalhos surgem

apenas as pálidas e loucas faces

os odres de ilusões pútricas

a paixão, lúgubre, em seu ápice...

Das quimeras ardentes em brasas

recordo a tua boca dizendo adeus

e nem uma lágrima, apenas, resta

deste efêmero amor, exílio de Prometeu...

E as solenes vozes turvadas

de acanhados medos cifrados

surgem, em vão, mais amargas

no clarão dos beijos roubados...

Da tua sombra fiz minha morada

no calor dos veludosos braços teus

e de olhar, assim, amenizada

um verso que, no tempo, se perdeu...

Escrito entre as pedras do Cáucaso

entre as ilhas celestes d'alma

nas vestes mais alvas de Hera

tingidas qual mortalhas sagradas...

Dizia, em pecado, intentos

d'um amor tão lindo e profano

por ele perde-se-á a vida

o maior dos erros humanos...

Seria amar sem razão, a beleza

enquanto o rubor das jovens têm sido

amar, por amar, tão louca e ferozmente

como se ama um sonho incontido...

O mesmo sonho que clama cuidados

para aceso permanecer em meu peito

sangrando de pouco a pouco e muito

semeando meus piores segredos...

Nesta e n'outras manhãs de prelúdio

amordaçados e vis beijos inteiros

é isto que mais almejo de tua boca

mais que todas as palavras de cortejo...

E quando estrelas nuas iluminarem

o infinito em que Eros adormece,

as horas serão eternas e imortais

e meus versos maiores que as preces...

Dos meus sonhos incontidos farei zêlo

para que teus lábios em mim repousem

e clamem, intensos, em altos solfejos

maiores que a vida, bem maiores que a morte!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 19/11/2009
Reeditado em 19/11/2009
Código do texto: T1932792
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