Renascer canção
Renasço lúcida por sobre as cinzas de cristais
ao ver o mundo que habitei desmoronando sonhos,
tetos desabados onde em absoluto reinava o amor,
solvi amargo pranto a verter no cálice de meus próprios "ais".
Esquinas sombrias das ruas que reconheci nos reflexos de mim,
nos negros olhos da noite apenas um semblante pálido a contar os passos que andei,
jazigo de esperança iluminado pelos raios de um sol já desbotado
mostra-me o que resta do caminho em curvas que não deixam enxergar o fim.
Nas histórias de um mundo descrente vejo a hóstia consagrada em "nãos",
parto sem vida, noite entregue à absoluta escuridão,
ouço o som tênue dos passos que se aproximam sem seguir caminho algum,
são pés descalços que ainda teimam em plantar vida em solos de resoluta devassidão.
Rompe a aurora tocando a cidade que dorme seu sono sem paz,
ainda vejo a rosa que um dia adormeceu no seco jardim que descorado espera
pela gota do orvalho a tocar a terra molhando sua boca sedenta
no beijo que sela a humanidade nos destinos do amor que a verdade nos traz.
Vejo-me então luz tocando o corpo já sem vida que o amor esqueceu,
penetro os poros, sopro suas narinas no renascimento tão meu, tão seu...
Abro manhãs com o vento nascido de minhas mãos quentes que trazem novo sol
e reconstruo a vida edificando o que restou do amor que um dia o mundo conheceu.
Partilho o ar tocando o céu que repousa sobre minha cabeça,
meus pés sentem o rio que acaba de nascer nas águas limpas das correntes,
um sonho e mais um explodindo em bolhas na formação do novo verde
que reveste hoje meu canto nas novas notas onde a canção enfim solfeja.
29/05/2006