PRESENÇA

Imaginei, queda em malsã dormência,
a sua vil, tosca não existência
e o malvado estado de carência
e a dor , a mortal tua ausência...

E o abismo de mim mal tragado
e o nada, um mundo naufragado
tão vazio, louco, esfacelado,
neste mudo, abismal eu, finado...

E depois gargalhei, tola e tensa:
e onde está, pois, esta tal presença?
Este alvo da tua bem-querença
e da tua obcecada doença?!

Acontece, sim, meu leitor pio
que se rio, ou se suo de frio, 
padecendo, morta, neste estio,
estiolada de sono e enfastio...

ou se busco do mundo a vã festa,
ou se venho tapando a aresta;
é o que cabe na vida, é o que resta,
e o que a sobra de fôlego atesta!

Ah, insano ser, minha dupla imagem!
Tu projetas a minha miragem!
Quando estive... tu só de passagem...
Quando estás, não sou mais que a voragem...

Com amor,

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Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 12/07/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T192805
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