Nu

Na moldura azul da cama,

sobre a tela do lençol,

o teu nu divinizado

era um frenesi de luz.

Aflição de girassóis

num ocaso do arrabalde,

tua imagem nos espelhos

refletindo o céu em mim.

Olhos límpidos luzindo

afeição imensurável,

lábios úmidos expondo

o desenho de um beijo.

Linhas leves, curvas tênues,

traço exato, forma clara

o teu trêmulo retrato,

sobre a cama, em pele e pêlos.

Seios tímidos e túmidos

de volume ainda morno.

Pequeníssimos botões

de minúscula roseira.

Colo e ventre esplendorando,

em volúpia de poesia,

a ternura que te habita

refletida na matéria.

Pernas fartas, pernas férteis

com perfeita conclusão

sobre os pequeninos pés

em dois pássaros inquietos...

O esplendor divinizado

extasiava-se de luz

onde a rosa juvenil

florescia aflita e nua.