Saudades de ti...

Não. Esta noite não quero andar pelo jardim

Nem aspirar o perfume das flores de marfim

Que plantei com a pureza de nosso amor nascente...

Esta noite também não quero olhar para a lua

Porque foi numa noite assim, que nua,

Dei-te o botão de rosa que desabrochou

Ao teu carinho, amor e tua ternura...

Esta noite fecharei minhas vidraças

Apagarei as luzes nestas noites vastas

Onde o silêncio geme o seu dolente frio...

Esta noite não quero ter lembranças

De um amor perdido de duas crianças

E não consumado: maldade de alguém...

Hoje eu quero ficar no silêncio

Desta saudade que me oprime o peito

E chorar mansinho e tentar dormir...

Amanhã, quem sabe,

Sendo outra noite

Tu passes aqui

E me digas “- Boa noite!”

E eu pare de chorar

E vá sorrir...

(...)

“- E viu Deus que isto era bom...”

“E assim se fez...”

E hoje meu sorriso canta

Porque tu vens...

..................................................................

Roubaram-lhe a Felicidade...

Vai alta a noite e ela esta sozinha.

A grande cama de casal a acolhe

Sente-se só: uma dor mesquinha

Atravessa o peito que o choro sacode...

- Ele esteve uma vez em minha cama!

Roubaram-me o Amor da minha vida!

Demônios o levaram, nesta vida insana,

E eu estou aqui, encanecida...

Foi uma noite, uma noite apenas! Mas que

Valeu-me a Vida pelo sabor da fruta

Madura, suculenta... (- Ai, que dor infinda!...)

- Vivi para ele! Por ele viverei... Porque

Nenhum outro pode conspurcar sagrada gruta

Que lhe pertence sempre... Mesmo porque a vida finda!...

Chorava assim, ela, a sua canção...

Noite após noite, dia após dia,

Até que numa noite, linda, de verão,

Ele largou as correntes que o prendiam

E veio para ela: pois não mais viviam...

Eram como as sombras da Caverna de Platão...

O Amor foi mais forte, mais forte do que a morte,

Sujeitaram os demônios e Anjos refulgiram!...

Cabelos grisalhos... E o Amor venceu...

Deu-lhe uma rosa... Abriu-se o botão...

Fizeram amor na noite majestosa e bela...

- Quando olhares o céu, nas noites que tem lua,

Observa as estrelas e verás que duas

Tem um brilho estranho e não se separam:

São eles... Que para sempre se amaram...