APARÊNCIAS
Às vezes o remédio é tão forte que adoece;
O pecado redunda em prece, o tudo morre com nada;
Às vezes a paz exige espada, a elevação um dia desce;
O que deslumbra fenece e até padece o que não se abalava!
Às vezes o fim é o mais corajoso recomeço;
O melhor lado é justamente o avesso, a glória habita no anonimato;
O maior valor é exatamente o barato, o impagável tem seu preço;
Às vezes o desprezo é apreço, o mito é fato!
Às vezes o valor do milhar é a cor mais solitária;
E ninguém na plenária é gente demais para aplaudir.
O abraço é uma forma de fugir, a prioridade é secundária;
Às vezes o deserto é uma praia e chegar é partir!
Às vezes a miséria da sobra é a fortuna da nata;
E o ouro não passa de bronze fingindo ser prata, a paz é terror;
Às vezes a indiferença é o melhor favor, o beijo é tapa;
Às vezes a face não passa de capa e o ódio no fundo é amor!
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