Espelho
Reflete como em águas límpidas
embaraçada imagem desfigurada
sedenta de incógnitas
dúvidas e certezas mescladas.
Se amo é porque odeio
se odeio é porque há apreço
se há apreço é porque há repúdio
e se há repúdio é porque amo.
Ao fundo vejo um algoz
pronto para decepar-me
mas ainda há uma esperança
por fim ouço sua voz.
A angústia se esvai
em vertentes vindos do paraíso
um forte clarão surge
e vejo-te transpondo meu mal em um sorriso.
Escultura lisonjeadora
olhar ameaçador de quem quer amar
consome-se de ódio por sentir desejo
quer bater, mas pede um beijo.
Sobre o ar desenho um coração
na imaginação pinto de vermelho
são anseios de um amante desordenado
se olhando no espelho.