AO AMOR NADA BASTA

Bastasse o queimor dos beijos

Das tantas deslumbrantes noites

As plangentes coxas enroscadas

As juras descompensadas

As costas em fogo, marcadas

Os profundos rasgos das unhas

Bastasse conseguir transmitir

Por sons de perfeitas palavras

Aquilo que ninguém

Que conhece que ama

Em verdade, conseguiria

Nem encarnado ao próprio amado

Bastasse escrever maravilhas

Trovar aos recônditos do infinito

Divinizar o corpo, o rosto, o jeito

Os olhares tesos, canhestros

Encarar esganado alma e carne

Como fosse o melhor confeito

Bastasse alinhavar-se

A um monumental cordel

O que o outro mais deseja...

Aguardar ordens a cumprir

Buscar buquês, laçar sóis

Convencer a lua a sorrir

Bastasse jurar, renegar

Conjugar o verbo amar

E todos seus sinônimos

Cuidar, ninar, alimentar

Como uma devotada mãe

De afeição imensurável

Por sua exclusiva cria

Tudo isso bastaria

Se um pouco houvesse

Do entender do outro

De real empatia

De sincero carinho

Ininterrupto, resoluto?

De pouco adiantaria.

Ao amor nada basta.

Nada o justifica ou desmistifica

Nenhuma palavra o explica

Nenhum gesto o equipara

Nenhum sacrifício o salva

O amor é o tudo por nada.