O reencontro (da “mulher na ponte” com o “homem do adeus”)
Era uma segunda-feira gelada quando ele arrumou sua sacola
Tão pouca coisa para levar, mas tantas poesias para guardar
O trem sairia às 8h e ele tremia de nervoso e alegria
Tomara coragem para enfrentar seus medos mais profundos
Esperava encontra-la e pedir-lhe perdão mil vezes se necessário
A amava tanto que nem sabia se conseguiria explicar isso algum dia
“Tão longe, tão longe...” quanto tempo perdido!
Quantos beijos deixados de lado, quantas carícias não feitas
Esperava que ainda houvesse uma chance por menor que fosse
Ansiava esse encontro há mais de cinco anos
Tempo demais para ficarem separados, sozinhos no escuro de suas tristezas
No vale, mais uma vez ela estava na ponte com seu vestido florido
Olhava distante esperando-o chegar, sonhava com seu abraço
Ainda sentia o gosto do último beijo que ele lhe dera apaixonado
Algo naquele dia a fizera acordar com uma sensação diferente
A esperança aquecera seu coração como a madeira fazia com a lareira
Sorrira distraidamente como há tempos deixara de fazê-lo desde que ele partira
Sentia-se leve, como uma jovem borboleta pronta para voar sob o arco-íris
Nunca em todos esses anos sentira tão fortemente a presença dele
Sabia, sentia, seu amado estava voltando pra casa, voltando para ela
Era um reencontro, um recomeço tão necessário, tão urgente
Quanta coisa pra dizer, pra compartilhar, para amar, para viver!
O trem deixou a estação com um homem feliz no banco de número oito
Pela janela ele podia divisar os prédios cinza da cidade sumindo na paisagem
Um novo cenário se descortinava a sua frente com campinas e verdes vales
Pássaros multicolores sobrevoavam as flores vermelhas do trajeto
As nuvens brancas pareciam chumaços de algodão no céu azul claro
Estivera por tanto tempo intoxicado com o cenário urbano que tudo agora o encantava
Aquele novo tão conhecido, tão rememorado e sonhado em sua mente retornava
No vagão outros passageiros conversavam animados e sorriam para sua direção
Havia certa aura de felicidade rodeando aquele homem e todos percebiam
Estava rumando para casa, para aquela que sempre lhe amou com dedicação
Esperava ser aceito em seus braços, que ela não estivesse comprometida com outro
Ansiedade e angústia povoavam seu coração cansado da saudade
Da ponte, sob o rio que seguia seu curso, ela mirava os olhos verdes naquele sol de 10h
As folhas laranja do outono caiam das árvores e pareciam bailar cadenciadas ao vento
Quando de repente, saído da neblina dispersa caminhava uma figura bem real
A dificuldade no andar, a muleta sob o braço, uma sacola ao ombro e uma boina xadrez
Ela sorria sem acreditar se estava sonhando ou acordada, beliscava-se para ter certeza
Ele parou e sorriu, admirando seu vestido esvoaçante compondo uma pintura perfeita
Então ela disparou correndo e só parou quando já estava abraçando-o bem forte
Sentindo o calor daquele corpo tão desejado, tão esperado e agora tão presente
Os dois choravam emoções represadas, felicidade extravasada, sonhos reatados
Reconciliavam-se de um longo desentendimento sem palavras, de uma mágoa silenciosa
Nada mais importava, só o amor que sentiam e que agira como um imã entre os dois...