Nascido da mulher e desde cedo embebido,
No néctar de um sonho desmedido,
Uma saudade em torvelinhos incidia;
No meu coração renascido.
Naqueles tempos, eu sofria; sofria,
De uma dor indizível, sem motivos,
Sem causas aparentes, eu apenas sofria,
Sofria com cada evento, e sem pretexto,
Legitimava o sofrimento, mantido em segredo,
Traduzido, apenas por meus olhos perdidos n'um ponto adiante.
Por estes tempos escrevia; versos delirantes!
Refolhos dos horrores antevistos desde minh’alma incerta.
Conheci os românticos e me perdi em encantos
E com eles morri cedo, de morte provocada,
Suicídio, sem cálculos, sem remorsos...
No meu enterro, os lírios foram meus companheiros
Cheguei ao céu dos meninos, e revi Beatriz,
O amor transluzia, e em minha face encovada e triste
A luz se fez, e eu morri a segunda morte; morte natural!
Meu corpo eu entreguei aos encantos da natureza
E o vi clavado de flores, sepultado na pura terra
Sem mármores, ou cimentos; meu corpo!...
Foi instrumento, e alimentei pássaros, e minhocas
E no derradeiro momento deste breviário de amor
Eu me vi renascendo da mulher, e desde cedo
Fui menino, responsável pelo amor que cultivei,
E amei sem pudor e sem entremeios,
Da mulher tive leite e mel,
Cheguei a ser homem e vivi os temores
Que caberia a todo homem ter,
Temi a perda do amor, pois amei a vida de menino
E o menino que fui desde que nasci da mulher...
Vi com olhos de rumor; que ao homem tudo é permitido!
E assim fui homem, vivendo na gaiola das convicções seculares.
Morri velho e temente da morte
Fui denominado homem normal
Despertei no corpo de nuvens e sais
E novamente reencontrei Beatriz
Não a reconheci, chorei,
Tanta beleza não deveria ter sido esquecida
Murmurei de desconsolo e desejei voltar,
Voltar ao corpo de duras moléculas e ricos sais
Mas, ai, que o amor não me acompanhou
A beleza brilha no céu, e nas estrelas pouso meus sonhos Primaveris,
Hoje sorrio, e beatriz é o encanto
Que devora meu pranto solitário
Amo o amor, sem justiçá-lo, as minhas incertas lembranças
Amo o que apreendo e vivo cada certo momento
Assim me encanta o amor, e o seu cultivo
Planto flores de amor e aguardo
A colheita na vida futura que agora manejo
Com mãos ricas de desejo impermanente
Que transcendo a cada dia de amor renovado
Na lembrança de Beatriz!