PENELÓPE

Minha fidelidade abrandará os temores do meu coração
Os anos passados entre mares de águas desconhecidas
Serão lembranças espalhadas pelos moinhos da planície
Que fecundou a esperança nas minhas madrugadas áridas

Meu passado é passageiro na chuva miúda da ilusão
Prisioneira dos pássaros negros que me afundará no anoitecer
Em que tentarei escalar o amanhã que não existe
Nas cantigas de outono do caderno que esconde o beijo roubado na minha vastidão

Meu remorso é não ter partido para a floresta de diamantes
Quando o navio dos sonhos estava com as portas abertas
Então encontraria o impossível nas montanhas verdes
Que se apresentam como o futuro cada dia mais distante

Seus olhos entristecidos refletem a imensidão do seu universo
Que só será habitado pela pureza de um amor eterno
E carente dos carinhos guardados no inverno de desesperança
Espero que o canto das sereias não a leve de encontro aos penhascos do desencanto

Sou prisioneiro dos dias que passarei no castelo de areia
Enquanto esperarei que regresse do inverno
Para sentir toda a devoção que tenho
Para alegrar os olhos tristes que o vento irá colorir