Das trevas do amor...

Quando as sombras da noite me rondam

nuas, vagam em negros solfejos

cobrem instâncias mais secretas

onde minha pele e a tua se encontraram.

Circundam-me num ardor profano

turvando coração e olhos

entre medos e soluços

emoldurados pela efemeridade das trevas.

Tuas mãos distantes me chamam

mas no escuro, delas me perco

qual a lua sôfrega

buscando pelo sol em desespero oculto.

Escrevo com o sangue derramado

das noites a fio, lacrimejadas e tensas...

Escrevo com fel, com um insensato bocejo

silencioso, das entediantes horas sem tí...

Tu és meu cavaleiro errante

apocalíptico, num assombro do tempo

entre afagos celestes de desejos.

Tu és a visão que meus olhos almejam,

és aquele que tece com sutil primor

meus mais secretos devaneios.

Mas a noite transveste a carne

e rasga a alma, em prantos

seus feitiços agourentes encerram

o amor mais bendito em mim.

Teu corpo, antes entregue, se esquiva

e qual mal fará que não sejas

meu amor bem quisto, eu suplico

mas tu te esvais num surto de delírio.

E por madrugadas em silêncio

faço do tempo maldito

que vaga mortificando os sonhos

sepultando minhas cantigas de amor...

Meus eternos e apaixonados gritos...

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 06/11/2009
Código do texto: T1908508
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