Das trevas do amor...
Quando as sombras da noite me rondam
nuas, vagam em negros solfejos
cobrem instâncias mais secretas
onde minha pele e a tua se encontraram.
Circundam-me num ardor profano
turvando coração e olhos
entre medos e soluços
emoldurados pela efemeridade das trevas.
Tuas mãos distantes me chamam
mas no escuro, delas me perco
qual a lua sôfrega
buscando pelo sol em desespero oculto.
Escrevo com o sangue derramado
das noites a fio, lacrimejadas e tensas...
Escrevo com fel, com um insensato bocejo
silencioso, das entediantes horas sem tí...
Tu és meu cavaleiro errante
apocalíptico, num assombro do tempo
entre afagos celestes de desejos.
Tu és a visão que meus olhos almejam,
és aquele que tece com sutil primor
meus mais secretos devaneios.
Mas a noite transveste a carne
e rasga a alma, em prantos
seus feitiços agourentes encerram
o amor mais bendito em mim.
Teu corpo, antes entregue, se esquiva
e qual mal fará que não sejas
meu amor bem quisto, eu suplico
mas tu te esvais num surto de delírio.
E por madrugadas em silêncio
faço do tempo maldito
que vaga mortificando os sonhos
sepultando minhas cantigas de amor...
Meus eternos e apaixonados gritos...