Um anjo troglodita

Ando a receber o que não me visita

e a sentir tão inodoras palavras

que saem do teu peito quase caladas

dizendo-me: vai, fica!

Percebo que meus pés voam estáticos

e o som que eu não ouço é-me melódico

e sobram-me estradas e me faltam passos.

O que inexiste há em mim,

dentro do peito e bem guardado

como sombras ressecadas aos olhos dormidos,

como dor indolor bem desprezada.

Ando a perceber-me feito um troglodita

que tão fidalgamente pensa e vive,

caprichando nos amores que tão docemente seva!