O MESMO RETRATO
Hoje acordei em outro quarto
Outra moldura do mesmo retrato
Cenas de um filme sem fim
Sobre a solidão que navega em mim
E na boca o hálito de absinto
Diz tudo o que sinto
Saboreio cada migalha da solidão
Antes de ultrapassar o portão
E vem à cabeça as frases feitas
Que sempre soam como besteiras
Nessas conquistas desta ilusão
Que me empurra para a solidão
Os olhos púrpuros estilhaçados
Mostram que fomos marcados
Por taças transbordadas de ilusão
Que cada vez mais tem gosto de solidão
Um beijo sem gosto na despedida
O mais belo de nossa vida
Mas sem nenhum sentido
Mostra que todo esforço está perdido
E nem percebemos a ilusão
Mesmo com o coração cheio de solidão
Na próxima madrugada seremos de novo
Sem nenhum pudor caça e caçador
E sentiremos pela manhã todo amargo
Misturado insanamente com o cansaço
Acordando talvez em outro quarto
Fotografando o mesmo retrato