O MESMO RETRATO

Hoje acordei em outro quarto

Outra moldura do mesmo retrato

Cenas de um filme sem fim

Sobre a solidão que navega em mim

E na boca o hálito de absinto

Diz tudo o que sinto

Saboreio cada migalha da solidão

Antes de ultrapassar o portão

E vem à cabeça as frases feitas

Que sempre soam como besteiras

Nessas conquistas desta ilusão

Que me empurra para a solidão

Os olhos púrpuros estilhaçados

Mostram que fomos marcados

Por taças transbordadas de ilusão

Que cada vez mais tem gosto de solidão

Um beijo sem gosto na despedida

O mais belo de nossa vida

Mas sem nenhum sentido

Mostra que todo esforço está perdido

E nem percebemos a ilusão

Mesmo com o coração cheio de solidão

Na próxima madrugada seremos de novo

Sem nenhum pudor caça e caçador

E sentiremos pela manhã todo amargo

Misturado insanamente com o cansaço

Acordando talvez em outro quarto

Fotografando o mesmo retrato

Luiz Noscente
Enviado por Luiz Noscente em 06/11/2009
Código do texto: T1907993
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.