Despedida

Não ardas quando em quedas me toma

melhor que te afastes absorto nesta névoa,

clausura dos amargos ímpetos

celas dos mortais...

Do riso teu emana torpores malditos

que em glória, minh'alma faz infinitos

riso de verbo e injúria,

tal como lâmina atravessando o peito.

Dor é que me causa teus olhos

o pesar eterno de não tê-los

pois só em mim, tão pouco bastava

e num instante se findaria meu grito.

Grito de escrava, mortal desejo

sucumbida às velas que clareia sombras

nelas supunha o tempo,

nestas sombras mortas, envoltas em medo.

Do meu rubro cantar, um gesto

que jaz em teu corpo qual único segredo.

Farta estou, entre prantos e pesadelos

deste teu pródigo amor

da paixão desmedida que finges não vê

das palavras soltas, desmedidas

Não mais traçar meus anseios?

mas se por eles vivo, como de ti desprendê-los

se és o ar que respiro

se tú és, somente, a vida e nada mais...

Que dor infernal e extasiante

ardem alma e corpo inteiros

faz da escuridão teu dôrso,

repôuso dos meus anseios.

Não quero já falar de tí, não mais...

estás matando-me aos poucos

pois que tú és a vida e tudo que há em mim

és minha, imensa e insensata, razão de existir!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 05/11/2009
Reeditado em 05/11/2009
Código do texto: T1905598
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