AMOR E SOFRIMENTO
Por que é tão improvável o amor,
Como neves caírem no Equador
Ou o sol não se deitar no horizonte?
Se, de noite, a felicidade me sorri,
O sono é doce de tanto que lhe senti,
Mas, de manhã, eis a angústia ali defronte...
Convenço-me, por vezes, qu’ela me ama,
Que da paixão mantém acesa a chama,
E que sou mesmo o homem da maior sorte.
A mínima distância, porém, traz a consciência;
O encanto se desfaz ante a demência;
Ao verme frágil sucumbe o ser mais forte.
Não queira sofrer a dor que me atormenta.
A mó que esmaga o peito é a ferramenta
De sentimentos diabólicos e impuros.
Aonde foi, meu Deus, onde estará?
Se não comigo, talvez com outro... Será?...
Eis-me perdido nos infernos mais escuros.
Na mesma hora, entretanto, o sino toca
E a alegria, a voz tão meiga me provoca:
Parece enfim desfazer-se o turbilhão.
Mas a alma doente não se deixa enganar,
Se nossos corpos não ocupam igual lugar,
Aonde vai, levará sangrando meu coração.
Por isso, cada toque seu me é tão rico,
Por isso, apesar da dor, ainda fico,
Na ilusão de renascer a segurança.
Compreende então a fraqueza deste homem,
Pois tal fraqueza, bem se sabe, tem um nome
Que nem a morte apagará de minha lembrança.
06.Mai.02