"LOUVA-DEUS"
LOUVA-DEUS
Um dia o entardecer irrompeu entre nós e
fomos jogados no vagar da horas;
Pela janela o gesto solitário da mão
acena o final da gente.
As mãos aos poucos vão se acostumar
até que novos afetos amerissem meus oceanos;
Os lábios aos poucos vão se tocando entre si,
até que se multipliquem por quatro;
Minhas narinas, por certo,
Meus pés, por certo
Meu tato, por certo
permanecerão no limbo deste degredo...
Até que o dia, pela manhã, ressurja em mim
repetindo-se no refrão idílico do "bem-te-vi"...
Agora, resta pouco de nós:
somos carreira solo e já não há mais
cabelos encaracolados,
nem mãos para acariciar.
Toda voz tem seu embargo,
Todo cigarro tem seu trago
Todo café tem gosto amargo
Todo amor tem seu hiato...
Parto. Pela esperança de novo porto
vou me repetindo no refrão idílico do "bem-ti-vi"...
Contrapondo-me,
aparece em minha janela solitário "louva-deus"...
E quando, pelo efeito da vida mágica
da procura resultar encontros, certamente
"bem-te-vi" saberei lembrar e
"louva-deus",
saberei louvar...