Vice-versa... Verso.
Sou um engano,
Mentira forjada pelas mágoas,
Quando devia ser vento forte,
Dobrando árvores,
Arrastando tapumes e telheiros.
Sou apenas brisa, sopro do mundo,
Afogando fruitivamente pétalas,
Cabos de flores,
Passeando com delicadeza em tez rosada,
Morando em duros de cabelos.
Sou um engano,
Lapidado nas angústias.
Quando devia ser mar revolto cinzento,
Chicoteando rochas,
Engolindo castelos,
Sou pacifista, sereno lago azul,
De lençóis abertos, amplos,
Ansiosamente desejado em lampejos,
De olhos mais azuis.
Sou engano,
Esculpido nas ausências.
Quando devia ser tempestade, borrasca, procela
Inundando a vida, pouco bela,
Sou garoa, cortina miúda transparente
Vem e vai a vapores
Fica na terra o frescor
Sobem aos céus os louvores.
Sou como sou,
Como a vida faz que sejamos
Paralelas desencontradas.
Você entre brilhos, verdade.
Eu, obscuro, entre enganos e desenganos.