O encanto de Ares
Ah! Se por ti eu não perder o rumo
talvez me encontrarás aqui
na espera de alguém que tarde chega
ou que inda vive, só, em mim.
Naquelas noites,
fazendas perfumadas de sal
olhares redentos ao medo
emprestei-te meu único véu casto
para nele derramar seu dôrso
aos fins de tarde ou madrugadas nuas
onde todo lugar é pouco
selamos com louvor a paixão dos errantes
num mar de desejos inefáveis
em ondas de torpores ardentes
n'alguma manhã qualquer
tu voltarás, bem sei
enquanto meu pranto qual fel
cai lentamente às cartas
deixando borrados os versos
imaculados, dopados de anseios
rasgarei, profana, carne
num pulso sentido desespero
em luas crescentes despertas
entre estrelas marcadas, incertas
conjurarei teus doces beijos
Qual virgem que ama em sortílégios
almejando tuas mãos em meu peito
mais uma vez não te esvais
pois num encanto e então
habitarás em mim mais que eu mesmo
Vingarei-te as lágrimas derramadas
não em vão, tu me cobrirás com teu libré
por noites e noites meu guardião dourado
e só na pele tua percorrerá meus segredos.
De joelhos clamarás aos meus pés
desatinos percorrerão teu corpo inteiro
do meu amor, teu amor será maior
então tu terás crido que amar é o pior de todos os erros.
.: Ares: da mitologia grega, deus da guerra.