O encanto de Ares

Ah! Se por ti eu não perder o rumo

talvez me encontrarás aqui

na espera de alguém que tarde chega

ou que inda vive, só, em mim.

Naquelas noites,

fazendas perfumadas de sal

olhares redentos ao medo

emprestei-te meu único véu casto

para nele derramar seu dôrso

aos fins de tarde ou madrugadas nuas

onde todo lugar é pouco

selamos com louvor a paixão dos errantes

num mar de desejos inefáveis

em ondas de torpores ardentes

n'alguma manhã qualquer

tu voltarás, bem sei

enquanto meu pranto qual fel

cai lentamente às cartas

deixando borrados os versos

imaculados, dopados de anseios

rasgarei, profana, carne

num pulso sentido desespero

em luas crescentes despertas

entre estrelas marcadas, incertas

conjurarei teus doces beijos

Qual virgem que ama em sortílégios

almejando tuas mãos em meu peito

mais uma vez não te esvais

pois num encanto e então

habitarás em mim mais que eu mesmo

Vingarei-te as lágrimas derramadas

não em vão, tu me cobrirás com teu libré

por noites e noites meu guardião dourado

e só na pele tua percorrerá meus segredos.

De joelhos clamarás aos meus pés

desatinos percorrerão teu corpo inteiro

do meu amor, teu amor será maior

então tu terás crido que amar é o pior de todos os erros.

.: Ares: da mitologia grega, deus da guerra.

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 31/10/2009
Reeditado em 31/10/2009
Código do texto: T1897510
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.