Raio de Sol

Para o meu mar de carências, teu rio de ofertas de amor ainda é pouco.

Perco-me de mim quando somes; o pavor me desorienta - como sarça ardente me consome.

Sei que me amas; de teu amar não tenho dúvida – mas de amor tenho muito mais fome.

Nunca soube o que é amar assim, meu amor. Pergunto-me: serei um louco?

Quisera ser louco. Daquelas loucuras mansas, tão doces, que só os loucos são donos.

Quisera poder variar, pelas imensidões da mente viajar; num prazer viajor sem itinerário.

Sem rumo certo, sem data de chegada, Trazer você de tão longe prá muito mais perto – juntando contrários.

Quisera ser louco, meu amor. Louco o bastante prá que possa arrancar de meu peito e atirar prá bem longe esta enorme sensação de abandono.

Mas louco já sou! Dizem-me as gentes, de modo tão inclemente, em seu crocitar estridente. -Por que não acreditar?

Que loucura tão benfazeja! Pois de ti ela faz que eu seja refém perpétuo, refém que não quer se resgatar.

Que mais eu quero? Se tresloucado, tenho a ventura de, em vida, provar o que só aos deuses se permite?

Quisera ser ainda mais louco, meu amor. De uma loucura tal que a tua ausência não me fizesse tão triste.

Que a tua fugaz presença me desse a louca certeza de que tu não mais partirás.

Quisera ser louco, meu amor. Louco para acreditar que este raio de sol, a ferir o meu rosto - é de você que está vindo falar.

Quando toco o teu corpo sinto-me como um virtuose tirando notas de um violino nunca antes tocado. E assim, embalado por notas tão loucas, levo-te para Pasárgada – para a cama que escolhi prá nós dois.

Vale do Paraíba, noite do primeiro Domingo de Dezembro de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 31/10/2009
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