Rumo a Mlada
I
Quando me pergunto: - quem sou? Não sei se realmente estou a querer resposta mesmo saber.
Tantos os que são a lutar dentro de mim, Universo-homem em contínua e perpétua mutação.
Contudo, se em minha testa houvesse um sinal a indicar, como uma seta, o rumo da transição,
O dístico tornar-me-ia, talvez, igual aos muitos que vegetam abdicando da graça do viver.
II
O mergulhar nas profundezas de teus negros olhos dá-me proféticas certezas; certezas que dantes não possuía.
Observar-te em pelo, com todo desvelo, é como acompanhar leoa a caçar na floresta,
Atenta, como a farejar a presa. Teu porte é para os meus olhos, um gáudio – uma festa.
Enquanto a distancia estrelas fenecem, mundos renascem. Aqui – sem tua magna presença - nada me importaria.
III
Sei que tal amor incomoda. E até entendo o porquê. Igual, se não o tivesse, também quereria ter.
Sou responsável pelo que sinto, pelo amor que tenho; por esse amor desvairado - por amar tanto você.
O teu sentimento – este é coisa toda tua. O que vale é como eu o receba; como sinta o teu beijo.
IV
Como partilho contigo o nosso desejo, os nossos momentos, que de pequenos, em eternos transformamos.
Enquanto ladram os cães, a caravana segue impávida em frente, rumo a Pasárgada, pelos caminhos do Tejo.
Não importa o que pensem! Isto é lá com eles – os do falso festejo. Vale prá nós a certeza – só nossa - de que nos amamos.
O compositor russo Nikolay Rimsky-Korsakov fez uma fantástica sinfonia intitulada “March of the Nobless from Mlada”, e, ouvindo-a percebo toda a persistência dos peregrinos rumando em busca de seu objetivo, superando todas as dificuldades. Para mim, funciona como um paradigma a ser seguido.
Vale do Paraíba, Noite de Sexta-Feira, Dezembro de 2008
João Bosco (aprendiz de poeta)