a mão de veludo

em nome da ninfomania

que sempre me exaspera,

eu vou sonhando de dia

dependurado na noite.

vou me acabando no açoite

que a mão de veludo opera,

mas ela jamais exagera

e me faz carícias também.

me sinto assim como alguém

que foi retirado do armário

pra ser consumido por quem

lhe quer que esteja à mão.

ser jovem é a indócil invenção

do mais saboroso e supremo –

me bota num monte de feno,

me diz que eu sou seu cabrito.

me usa, maltrata. me agito

de baixo de tanto egoísmo.

não me regenero e grito,

pareço um cinto de couro.

me confundindo com ouro,

ela me bota num cofre

e faz entrar outro bofe

que a trata com indiferença.

e eu, já contando com a crença

de que não se sonha acordado,

torço pra que ela me vença,

mas que não me deixe de lado.

Rio, 24/06/2006