NOSSOS OSSOS

Quando me avisto

- ocluso e escuro -

polindo impávido

tua prata e teu ouro

fico a pensar se a espécie

de porcelana fina

com que me modelaram

não foi a feita com a cinza

de meus ossos

que o tempo exumou.

Quando me desespero

- recluso e confuso -

apalpando pávido

minhas vias e minhas veias

descubro a espécie de amor

com que me forjaste:

- Aquele, cheio de afetos,

feito com a lágrima

que te lavou e me levou

a morrer de saudades

quando morreste tu

de amor por mim.

Partiste tão sem demora

que nem pude eu fazer

das cinzas de teus ossos

a porcelana única e alva

para fundir-te altar

onde eu queria ver

entronizado meu amor por ti

- meu imorredouro amor por ti -

no supremo sacrário

de nossas rendições.