Seja bem vindo, a esta cidade, inundada pela amargura!
E não se surpreenda se, teu coração disparar de tanta ternura,
Ao ver a beleza que deus por aqui criou em fartura,
Mas cuidado, a beleza esta maculada, por certa postura
Das gentes deste lugar, que teima em morar na altura,
E nas encostas do morro tece teias de barracos, na vã loucura
Que mais perto do céu deve estar o filho que procura
Pelo pai amantíssimo e invulgar que preside esta dura
Realidade de a qualquer momento a chuva que cura
Em outro lugar, aqui descure de zelar e faça a travessura
De a tudo inundar, pondo em paridade o povo da altura
E o povo que no mangue sobre as palafitas, descura
Da sua prole de meninos e meninas caranguejos, vívidos da fartura
De nada ter! Mas se abraças a causa do bem social e da tessitura
Política governamental, eis que observarás que aqui se apura;
Doa em quem doer e independente de quem seja o autor da ranhura.
Que no solo esta estampada em relevos soberbos de corpos e ais e ais.
A lei fará justiça e meninos caranguejos e alpinistas meninas
Serão lembrados no próximo ano eletivo nos cartazes sazonais
E o homem do povo fará cumprir a lei que o elege e protege e sem mais
Tenho dito, ao Benedito, meu amigo preto que pita o pito e desassossega
De ver minha carantonha de desaprovação; que sentado estou e aguardo;
O dia em que se cumpra a lei regia da justiça divina e cada um que nega
Meu direito de olhar e ver o que não esta escrito que caia sentado
No espinho de sua pouca credulidade e adivinhe no ruído de seu pensar
A consciência aos saltos despertar, e perceba deus em fino trapo trajado
Feio e amargurado, e saiba; este é o vosso deus particular
Teu servidor que contigo cumula tesouros para a cova; teu certo lugar!
No entanto se queres do doce e não do amargo, minha leitura não recomendo
Procure e leia um verdadeiro talento, pois este aqui é lobo no relento
Feroz e sem caverna que o aceite; e se empreendo
Faço em territórios de embates solitários na escuridão de minha alma sem provento
Sou discursivo alentado pela cisma do pecado que tenho como certo
Quando com meus olhos vejo que no mesmo lugar que exânime deita a vida
Um castelo erguido em fina ourivesaria, conserva a morte em tumba vazia
E o abastado proprietário, assim se afirma no teatro do social, seu aval à ecologia!