Atalhos, desencontros, sonhos vãos...

Quantos atalhos neste mundo louco

E quantos desencontros por poucos instantes,

Um ano, um mês, um dia, uns poucos minutos,

E tudo se desvanece em sonhos vacilantes...

Tudo parece apontar algum caminho,

Mas talvez não seja por aí...

A ostra se fecha na gestação de pérola

Mas talvez o que traga a felicidade seja um rubi...

O coração se fecha e cria altos muros

E uma sebe de espinhos em roda cresce alta...

- Como ver o mundo que existe lá fora

Se o coração persiste no que lhe faz falta?...

É preciso abrir uma picada*

No meio do mato e da floresta densa...

Achar um outro rumo, buscar outro caminho,

Talvez não haja só um amor, como se pensa...

No claustro vivem as que desistiram

Da vida... Do Amor... Da completude...

- Mas não nasci para ficar sozinha.

Talvez precise mudar de atitude...

Perde-se a vida perseguindo um sonho

Que de atalhos errados e muitos desencontros

Não nos deixam ver a linda luz do sol...

- Não será melhor aceitar outros encontros?...

Sonhos vacilantes se perdem na desesperança...

A longa espera machuca e em desatino

Desorganiza os pensamentos... E assim

Se passa a vida atrás de um só destino...

- Mas será por aí?...

- Já não esperei tempo demais?...

- Já não teimei no mesmo caminho?...

- Já não percebi que há outros sonhos mais?...

Se o Príncipe não busca Rapunzel,

Por que ela mesma não amarra sua trança

E desce por ela com nova esperança?...

Uma picada* no mato não é fácil de abrir...

Mas para quem, como Penélope,

Teceu, teceu e desmanchou a renda

Esperando Ulisses que não vinha,

Por que não posso eu abrir uma fenda

No malfadado mato que me envolve

E viver a luz que há tempos já não tinha?...

É uma boa questão para pensar...

- Quem sabe assim não vou me libertar??...

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Nota da Autora:

Aqui no Rio Grande do Sul, principalmente na fronteira com o Uruguai, a palavra “picada” usada neste caso, significa abrir um estreito caminho no mato, a facão, que é um dos apetrechos que fazem parte dos “aperos” do gaúcho (objetos usados na montaria do gaúcho e que este sempre traz consigo, justamente para abrir caminhos quando as trilhas dos matos se fecharam ou para achar uma saída do mato, um atalho, ou ainda para se defender de algum animal.)

“Aperos” são todos os materiais usados para preparar a montaria do gaúcho - o cavalo - como o freio, pelegos, barbela, estribos, rédeas, etc. etc.. Aqui na fronteira, a sela, é muito pouco usada.

ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 22/10/2009
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