Palavras...

Palavras.

Todos os dias estão presentes,

Umas machucam,

Outras não.

Muitas não importam.

O dia começa como todos os outros.

Acordo sem vontade de ir para a escola. Lavo o rosto e a sonolência desaparece. Faço um pequeno lanche. Pego a mochila e entro no carro.

Não penso nem na tarefa que propositalmente não fiz, porque estava com preguiça.

Os amigos sorriem ao me ver, me cumprimentam. Observo as crianças correndo, rindo de brincadeiras que hoje me parecem idiotas.

Subo as escadas sendo espremido nas paredes, e acho isso engraçado, como sempre. Sou o terceiro a chegar na sala. A professora chega e ainda alguns estão em pé, ela manda-os sentar.

Perto do recreio, faltando vinte minutos, alguém bate na porta. Pelo vidro, qualquer um reconhece a diretora do colégio, que geralmente visita quando alguém fez algo sério e que precise de uma porrada emocional para se ajustar, coisa que nem a orientadora nem a secretária consegue fazer. Temos medo dela.

- Venho aqui hoje não para dar sermão.

As primeiras palavras dela rapidamente excluem a tensão na sala de aula, alguns comemoram sorrindo.

A expressão dela é dura, mais do que o normal.

- Mas também não venho contar piadas. – e os risinhos cessam imediatamente.

A tensão voltou, mas misturada com curiosidade. Todos sabem, pelo tom de voz, que o que quer que seja não será nem um pouco engraçado.

- Hoje é um dia triste, turma. Não só para mim, mas para todos no colégio. – ela faz uma expressão de pesar e recomeça. – Não há necessidade de enrolar, então vou ser direta com vocês. Porque quando um amigo nosso falece, sempre nos atinge de uma forma inexplicável.

Agora, todos, até os bagunceiros, estão atentos.

No fundo, todos sentem.

Algo ruim aconteceu.

- Uma colega de vocês não está conosco hoje. – ela observou. Alguns olhos arregalaram-se para a carteira desocupada na frente da sala.

- Ela sofreu um acidente de carro. – seu rosto é duro de tristeza. – Me dói ter que lhes falar isso tão inesperadamente, mas ela... – a diretora hesitou. -... não resistiu.

As meninas da frente da sala foram as primeiras a receber o choque. Uma gritou. Sua melhor amiga. Apenas um grito e silêncio, um silêncio doloroso e tenso, marcado por seus soluços.

As lágrimas tomaram maior parte da sala.

Foi rápido,

Tudo que a diretora falou parecia distante.

Devo ter sido o último a perceber.

As palavras nunca antes me feriram tanto. Na primeira vez que as da diretora chegaram a meus ouvidos, não as entendi muito bem. Era como um texto em outra língua muito parecida com a minha.

A carteira vazia na sala parecia um túmulo.

Uns levaram a mão a cabeça, fechando os olhos em luto.

- Não. – a palavra não sai da minha boca.

A diretora fica em silêncio, deixando-nos lidar com a perda inesperada.

Levo um susto inexpressivo quando recebo um abraço quase voador da melhor amiga dela. É um abraço fortíssimo. Ela deve entender o que estou passando, era a única que sabia do amor que eu sentia por sua amiga, a garota que deveria estar na carteira vazia.

Foi onde estava quando a conheci. Uma conversa qualquer, anos se passaram, uma amizade crescente se formava. Precisou da intervenção de sua amiga para que ambos percebêssemos do que se tratava. Que de fato, estávamos apaixonados.

Por isso, fui o último a perceber.

Porque minha dor era maior e mais intensa do que jamais poderia descrever a alguém, e muito pior do que qualquer um poderia imaginar.

Sentia que estava se afogando em meu próprio rio de lágrimas.

Palavras...

Apenas três que repeti para ela sempre que podia,

Importavam.

Eu te amo.

Palavras...

“Amor” era nossa preferida.

Jack Lopes
Enviado por Jack Lopes em 22/10/2009
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