CONFISSÃO CALADA
Ela me olha de um modo intrigado e questionador
Já eu simulo não sentir fervor e mal disfarço o que procuro
Um desinteressante afã maduro, uma sereia, ardil num broto em flor
No mundo que ela sonha não estou, em sua mira sei que não perduro!
Se viro o rosto ao ser por ela visto, do mesmo modo ela procede
Quem olhará o olhar que antecede vai perceber algo inaudito
Um querer levitante e não dito, um silêncio que pede
Mas naquilo que a prudência me impede, percebo esse nunca infinito!
Não há qualquer cumplicidade entre as nossas motivações
Ela e suas curiosas imaginações, eu com meus anseios retraídos
Aqui tantos sintomas inibidos, lá nada me inclui às intenções
E eu só confesso aos meus botões esses desejos proibidos!
Todos os dias eu peço ao acaso que mais uma vez lhe traga
Bem sei que seu olhar me flagra, que quase falo no que me denuncia
Mas meu coração jamais se pronuncia e nem se atreve sonhar em conquistá-la
Se nos meus olhos esse amor nunca se cala, prossegue mudo a confessar-se a cada dia!