Canção para Ana Li
CANÇÃO PARA ANA LI
P/Minha esposa Eliana Porto
Wilton Porto
Moça da voz que acalenta,
Caracolados cabelos,
Olhos vibrantes, castanhos,
Que encanta qualquer castelo.
Se te foste rude o destino,
Cheio de luz cada sonho.
Desde o ventre – se sabe,
Que tua mãe – vaidosa,
Desprezou-te, fez de conta,
Que eras pior objeto.
Mas tu – teimosa – nasceste,
Não para ser uma santa,
Porém a mãe que vegeta,
Só em ti apoio encontra.
No entanto, como ela é burra,
Volta e meia e ela apronta.
Pregoa-se nos quatro mares:
Deus dá lençol a quem não tem.
Se alguém está num bucho,
Mesmo não tendo um vintém.
Do nada aparece o luxo,
Pois de um Ele faz cem.
Não é preciso jogar
O nascido em obscuro lar,
Com a desculpa esfarrapada
De não ter como cuidá-lo.
Se transou – aguenta as pontas,
Pois Deus é bom no cobrar.
Moça decente, ativa,
Sempre prudente no agir.
Ao teu lado a gente sente
Que o céu fica é aqui.
Sorrindo, calma, afetiva...
Estás cá, estás ali.
Ao ver-te assim: decidida,
Qual o mais sábio dos homens,
Ninguém pode imaginar
Que opaco é teu sobrenome.
Que em ti a riqueza que há
É o Amor posto na lida.
Aquela criança macérrima,
Doada como se bicho fosse,
Se da fome foi joguete,
Do trabalho fora vingança,
Já que a casa que a colhera
Para dar-lhe vida abundante,
Dos maus tratos fez livre dança,
Imprimindo letal muxoxo.
Até hoje – olhando os céus –,
Ana Li pergunta aos deuses,
Se no leito que a mãe dormia,
Desavisado de onde Li viveu
Fungou sujando o lençol.
Pois da mãe, ela pagou,
Até o que não lhe cabia.
Por todo o corpo, Li possui marcas,
Mas, ínfimas, ante as psicológicas.
No entanto, jogando por terra a lógica,
E da matéria, tendo o parco,
Mostra sempre ser a doença ilógica:
Driblou o derrame, e leva firme o barco.
Constantemente aparelhos pelo físico,
Não se intimida – ajuda a quem precisa.
Se o coração enfermo diz: “Te ajuíza”!
Ela responde: “Não posso prender-me num aprisco,
Com irmãos tantos à margem do paraíso”.
Riso largo, astral que enleva,
Todo o céu nela se encerra.
Ela é a Terra que se eleva,
É o ditoso vindo pra Terra.
Se achas que neste Planeta
O sustentáculo é a dor;
Se não acreditas em anjos,
Se te perdeste do Amor;
Eu digo e não me constranjo:
A Li tem asas de Arcanjo.
Quem quiser ser feliz,
Que siga dela, o exemplo:
Tem de ser mais que ator,
Desencarnar a atriz.
Fazer do caos o seu templo,
Do inimigo o Amor.