O GRITO DA RIMA
Chega de arestas
Senões e contornos
Da cara limpa sem festa
corpo sem adornos.
Chega de singular
Monólogos sem sal
Da voz sem cantar
Amor sem plural.
Chega de omissões
Das meias verdades
Olhar sem visões
Pouca lealdade.
Chega do absoluto
Do certo e concreto
Som do viaduto e
Carinho sem teto.
Que venha o mau jeito
O tropeço, o não sei
O descompasso no peito
coração fora da lei
Que venha o trovão
O paraíso, boa libido
O “sim”, porque não?
A perda do juízo.
Que venha o corte
Toda desordem...o raio
O impossível, a morte
Mães da praça de maio.
Que venha a escuridão
A loucura, tudo errado
A queda, o palavrão
Noites sem namorado.
Que venha o rascunho
Erros de português
O cerrar do punho
Por coisas que nunca fez.
Que venha a transgressão
A labareda e o lábaro
vias de quatro mãos
O machado do bárbaro.
Que venha o esconderijo
O antes sem depois
A exposição do lixo
Lugar que caibam dois
Que venha a velha idade
Ausência da memória
Pouca fertilidade
Rugas roubando história.
mas...
Que venha um louco afeto
Que não passe, nem sare
Sorrindo por remédio incerto...
Até que a morte não os separe.